17 de nov. de 2016

SAÚDEQuando a diabetes leva à escuridãoPesquisa aponta que 45% dos diabéticos desconhecem relação entre a doença e problemas na visão. A maioria nunca ouviu falar em dois males graves, derivados da diabetes, que afetam os olhos

Por: Ana Paula Neiva - Diário de Pernambuco


Publicado em: 14/11/2016 11:46 Atualizado em: 14/11/2016 12:54

Ela vem sem ser notada. Chega aos poucos, meio embaçada com uma mancha turva e escura no olhar. Mas a perda de visão em consequência da diabetes é cada vez mais frequente na população. A percepção em relação às complicações oculares ocasionadas pela doença foi alvo de pesquisa realizada em oito capitais brasileiras, entre elas o Recife. E, para espanto de todos, mais da metade dos 500 recifenses entrevistados declararam nunca ter feito sequer um exame para dianóstico da diabetes. E 94% nunca ouviram falar em retinopatia diabética (RD) e edema macular diabético (EMD), apontados como principais complicações da doença, que causam repentinamente a cegueira. 

O diabetes atinge um total de 14 milhões de brasileiros, no entanto, quase 50% da população do país não sabem que o problema pode causar a perda de visão. Na segunda-feira, será celebrado o Dia Mundial do Diabetes, que neste ano tem como tema central da campanha “Os Olhos no Diabetes”.

O estudo, realizado pela Sociedade Brasileira de Retino Vítreo (SBRV), em parceria com o laboratório Bayer, foi apresentado em São Paulo. Quatro mil pessoas participaram das entrevistas. Entre os consultados, que não têm diabetes ou algum familiar com a doença, 45% declararam desconhecer a relação do problema com a perda de visão. Já entre os diabéticos e parentes de pacientes, 57% nunca ouviram falar em RD e EMD. 

Na capital pernambucana, 39% dos 500 pacientes interrogados afirmaram também desconhecer a relação entre a enfermidade e a cegueira. Entre os recifenses ouvidos na pesquisa, que têm a doença ou algum caso na família, 22% disseram que seus endocrinologistas nunca pediram exame de fundo de olho, fundamental para o diagnóstico precoce da complicação ocular, e cerca de 6% nunca passaram por uma consulta com oftalmologista durante o tratamento. 

A Retinopatia Diabética, aos poucos, causa borrões e áreas escurecidas no campo de visão. O Edema Macular Diabético atinge a região central da retina, que fornece nitidez e foco às imagens. O problema gera manchas na visão, distorção das imagens, causando fotofobia, redução do contraste e da percepção de cores, além de alterações no campo de visão. O problema compromete a mobilidade dos pacientes, impossibilitando-os, por exemplo, de dirigir ou descer uma escada com segurança. 

A inteção da SBRV é alertar a população para o diagnóstico precoce, causado pelo aumento do nível de açucar no sangue. “Em relação ao diabetes já se observam níveis de epidemia no Brasil. À medida que esses números aumentam, proporcionalmente cresce o número de indivíduos que correm risco de desenvolver essas complicações oculares”, diz o médico endocrinologiosta Luiz Turatti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. De acordo com as estimativas da International Diabetes Federation, cerca de um terço dos pacientes desenvolve algum tipo de dano ocular. 

NOVA OPÇÃO
Uma nova terapia a base da substância aflibercepte foi recentemente aprovada pela Anvisa, mas ainda não é uma realidade no Sistema Único de Saúde (SUS). O Eylia, do laboratório Bayer, promete recuperar a visão perdida de pacientes com Edema Macular Diabético. É um antiangiogênico que atua na inflamação causada pela doença, inibindo a formação de novos vasos na retina. A droga já vem sendo usada por alguns brasileiros por meio de ações na Justiça para que planos de saúde banquem os custos. 

Foi o que aconteceu com a estudante Luciana Mangini Martines, 31 anos, que descobriu a diabetes aos 20. Ela deixou de realizar o exame de fundo de olho. Da noite para o dia, Luciana amanheceu sem enxergar. “Era 1º de janeiro de 2010, quando abri os olhos só via uma mancha escura”, lembrou Luciana, que é natural de Sorocaba, interior paulista, e há pouco menos de um ano, usa o novo medicamento. Ela já conseguiu recuperar a visão. Luciana chegou a ter apenas 5% da visão do olho esquerdo. 

“Minha vida mudou completamente. Passei a depender da minha mãe para tudo. Não conseguia descer uma escada sozinha”, contou a estudante, que largou o curso de medicina por conta da cegueira repentina. Luciana recuperou 60% da visão no olho esquerdo e 80% no direito. O tratamento com o aflibercepte é ministrado por meio de injeções intravítrea (dentro do olho), que traz resultados importantes no ganho de visão já nas primeiras apliações. 

Há vinte anos, o único trata mento disponível para o EMD era procedimento com laser. “Hoje, o laser está ultrapassado, já não consegue reverter a perda de visão, apenas estabiliza”, explicou o oftalmologista Sérgio Pimentel, chefe do serviço de retina do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Entre os três medicamentos para reverter a cegueira, o HC da FMUSP dispõe apenas o de menor custo. “É preciso que haja mais investimento por parte do governo. Recebemos três frascos por mês, o que dá para 150 doses, mas a quantidade é insufiente para os pacientes, que são muitos”, lamentou o médico.  

* A repórter viajou a convite da Bayer

FAV oferece tratamento gratuito no Recife

O tratamento para diabéticos com complicações oculares com a aplicação de injeções intravítrea é realizado no Recife pela Fundação Altino Ventura (FAV). Lá, especialistas aplicam um antiangiogênico ranibizumab, droga semelhante ao aflibercepte que vem sendo usado em São Paulo. Mas os oftalmologistas são unânimes em afirmar que o sucesso do tratamento deve-se ao controle da diabetes, juntamente com a realização de exames períodicos como o exame de fundo de olho. 
Além da FAV, o Centro Médico Senador José Ermírio de Moraes, em Casa Forte, também faz atendimento a pacientes com diabetes. No entanto, a unidade não oferece ainda o tratamento com injeções dentro do ollho. “Fazemos o acompanhamento, aplicando o lazer, caso seja necessário, mas se precisar das injeções, fazemos encaminhamento para fundação”, explicou o oftalmologista Ricardo Correia de Araújo. 
A cadeirante Antônia Maria de Andrade Soares, 50, perdeu a perna há quatro anos em consequência da diabetes. A visão também já está comprometida. “Não enxergo direito. Não consigo mais ler nem fazer crochê”, contou. Ela e a irmã, a cozinheira industrial Santina Maria de Andrade, 48, também diabética, aguardavam consulta no centro em Casa Forte. Há seis meses, elas perderam uma irmã, que já estava cega há oito anos. 
O aposentado Messias Santana, 67, que também se trata no local, descobriu que estava com a doença aos 40 anos. “Foi justamente pela perda de visão. Fazia faculdade e no exame de fundo de olho, o oftalmologista observou alterações”, comentou. Messias se trata com lazer e, no semestre passado, conseguiu renovar a carteira de habilitação para três anos, uma vez que sua visão vem sofrendo perda progressiva.  

SAIBA MAIS

500 recifenses foram entrevistados na pesquisa
94% nunca ouviram falar em retinopatia diabética e edema macular diabético
39% afirmaram desconhecer a relação entre a diabetes e a cegueira 
22% dos que têm a diabetes disseram que seus endocrinologistas nunca pediram exame de fundo de olho
6% nunca passaram por consulta com oftalmologista durante o tratamento
4 mil pessoas responderam a pesquisa em todo o país
45% declararam desconhecer a relação do problema com a perda de visão 
57% nunca ouviram falar em RD e EMD
415 milhões de pessoas têm diabetes em todo o mundo
642 milhões deverão ter a doença em 2040 
Em 2015, 673 bilhões de dólrares foram gastos com diabetes no mundo
Em 2015, havia no Brasil 14,3 milhões de pessoas vivendo com diabetes
Em 2040, estima-se que 23,3 milhões de brasileiros terão diabetes
Em 2015, 22 bilhões de dólares foram gastos com diabetes no Brasil
1,5 milhão de mortes foram provocadas diretamente pelo diabetes no mundo em 2012
80% ocorreram nos países de renda média e baixa 
14 milhões de pessoas têm diabetes no Brasil

O impacto do Edema Macular Diabético
1 em cada 3 pessoas com diabetes desenvolve algum grau de dano ocular relacionado com doença ou retinopatia (1)

A principais causas da retinopatia são combinação de altos níveis de:
Pressão arterial
Glicemia
Colesterol

O Comprometimento da visão relacionado ao EMD pode levar a :
Dificuldades nas tarefas e funções cotidianas
Qualidade de vida reduzida
Risco de problemas de saúde mental

O custo anual direto de um paciente com EMD é aproximadamente duas vezes maior do que pacientes que têm apenas diabetes
15 mil de euros - paciente diabético sem EMD
31 mil de euros - paciente com EMD
POSTADO POR: ASSESSOR/PORTA-VOZ



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